Prof. Dr. Marcelo Dutra da Silva

Os ares de Brasília

Prof. Dr. Marcelo Dutra da Silva
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Tem início em Brasília um novo ano legislativo e tudo indica que não será um ano qualquer. Pelo contrário, diante das movimentações observadas em janeiro, as escolhas e habilidades políticas do parlamento nunca farão tanta diferença. Um ano que também não será fácil para quem governa.

Enganam-se os que tentam jogar a política na vala comum, partindo do princípio de que não precisamos de representação e que todos na política, lá ou aqui, estão envolvidos em uma espécie de conluio, para defender seus próprios interesses. Não é bem assim!

A política é um instrumento social de participação coletiva, que depende da divergência de ideias para seguir em frente. É no contraditório que consensos mínimos são formados para atender pautas prioritárias, em nome de um projeto maior, de cidade, estado ou país.

Vimos na passagem dos últimos quatro anos que impor na política é como caminhar na direção contrária da construção coletiva, pois quem impõe não quer saber de diálogo e não se importa com o contraditório. Em resumo, quem impõe na política se opõe à democracia e isso é muito perigoso.

Quando alguém se impõe na política _ geralmente para se perpetuar no poder _, mesmo que pela força, e não encontra resistência ou limites, a tendência é radicalizar posições, excluindo os diferentes. Aqueles que apoiam são tratados como amigos e os que ousam questionar precisam ser destruídos. Mas nem sempre o plano não dá certo e o radical tem a cabeça decepada pelo voto, mas deixa sementes que prometem fazer estragos.

O mal foi plantado e sementes do radicalismo político elegeram governadores, deputados e senadores. Estão por toda parte e é possível que se propaguem nas eleições municipais e no próximo pleito nacional. Vai depender, apenas, se irão encontrar resistência e limites. Meu receio é que não encontrem.

De alguma forma, nos tornamos um povo raivoso, ao invés de críticos. Foi-se o tempo da boa conversa, mesmo entre os amigos. As análises são rasas, pobres em argumentos, baseadas em fatos duvidosos e carregadas de raiva. É raro encontrar alguém que se proponha a discutir visões de mundo e todos parecem ter se tornado imediatistas, incluindo pessoas esclarecidas e queridas que conheço.

Os ares de Brasília empestearam o território nacional, transformando alguns amigos em perfeitos zumbis, que executam ordens programadas, sem refletir sobre as consequências. A impressão é que sofreram algum tipo de programação mental, em que é preciso defender o indefensável, não importando o tamanho do crime ou quem atingiu. Tudo em nome do ódio.

Vamos ter muito trabalho e paciência pela frente. Será muito difícil enfrentar as sementes que tentarão germinar nas eleições seguintes e espero que sejamos fortes para resistir em Pelotas. No RS foi por muito pouco e quase nos tornamos solo fértil para as pautas radicais do extremo absurdo. Não será diferente aqui e vão tentar, com toda certeza. E neste caso, muita atenção para as pessoas, para o que elas já disseram (de forma pública) e com o que elas já se alinharam.

Nossa cidade tem riquezas, produz conhecimento e potencial para o desenvolvimento sustentável. Nosso povo é trabalhador, vivemos em uma posição geográfica estratégica e junto com Rio Grande e outros municípios do entorno podemos formar um bloco comum de desenvolvimento. Portanto, não podemos declinar ao discurso de ódio, ao ideal extremista que divide e propaga mentiras. Pelotas não merece.



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